O vermelho da vida

vermelho_da_vidaÉ sinal fechado
é ponto morto
é espera
é estar pendente
da ascensão ou
da eterna danação

Caminho com Virgílio
passos felinos no topo
do muro
MONUMENTAL

É procura
é busca
é resgate
é um corpo que para
pela metade
É pavor
que de tão rubro
mal cabe no peito
que o acorrenta

Carmim os caminhos
magenta magnéticas
manhãs
afogueado nos olhos
afogados os gritos

Escarlate os pedidos
de socorro
escondidos na noite
enquanto o fio vermelho
ainda escorre

Dedos de moça mulamba
rubro corpo diminuto
arde no tambor do dia

Malagueta e Cumari
porque a picância da vida
faz a dor
o choque
o apavoramento

Jalapeño e Caiena
em plena cor
da beleza
dançam ao vento

Rodam tules e babados
efeito tufão
tacos tocam tons
no despedaçar
das horas

Dedos de moça espanhola
inventam rojas castanholas
valentes

O vermelho da vida
pinta o espaço
entre a espera e
o próximo movimento
corredor frente ao
tiro da largada
concentração máxima
da força humana
humana, demasiadamente
humana.

 

baía

imagem-internet
Fotografia de Felipe Vernizzi (2018), a qual eu chamo de “vermelho da vida”.

 

eu escrevo
um passo de dança
completo

a sentença

ainda tenho que comentar
sobre a ausência passada
de feministas ao redor da escritora
ainda
preciso escrever a nota
sobre ambiguidade
ter bifurcação
como sinônimo
de ameaça
e de chance
segundo
a criança que corre
em direção ao mar

as luzes na baía
mais ao sul
brilham tão bonitas

é muito melhor
olhar para elas
que para os horrores
de minha imaginação

minha

nossa

“a sua história é a minha história
e a minha história é a sua história”
disse a comediante

acho que vou
pedalar até a Solidão

 

 

Malus Domestica

maça2

Encontrei a perplexidade numa 
maçã.
Vontade de escrever com letras
à lápis – MAÇÃ

Quando a escolhi dentre tantas
na banca do mercado
sua complexidade estava
no preço do quilo
não que valesse muito
nem que valesse tão pouco
mas era junto daquele monte de 
frutas, tão todas e tão elas
como se fossem nada
– o trivial é invisível, mas o essencial também – 
era lá que estava o sentido da vida.

Para quê a massa da maçã?
Se o impulso maior da semente é
germinar para eclodir
crescer para reproduzir
e revolucionar em seus ciclos
inquietos?

Ela sabe.

Molhava meus lábios com seu
corpo doce sumarento, mas suave
estalava entre meus dentes, mas macia
saciava a fome, a sede, a imaginação.
Este ano elas estão especialmente
atraentes e deliciosas,
venenosas talvez – o que é invisível,
não o veneno, mas sua trivialidade – 
mas disso ela não sabe.

Ela foi se acabando aos poucos
em cada mordida buscava a 
palavra específica, especial,
que pudesse dizer da minha
perplexidade ao gozar de algo tão 
grandioso como o morder
barulhento de uma maçã.

Pensei na maçã do amor, pensei
em Adão e Eva e na Serpente,
não nego,
na Branca de Neve, mas pensei
também num desenho que vi 
outro dia, cruel como a fome.

Maçã  Mulher  Mãe

Estou saciada, e perplexa.