despoema

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Ana Sabiá

“só derrubando furiosamente poderemos erguer algo válido e palpável: a nossa realidade”
Helio Oiticica

Olho para as estrelas enquanto tenho os pés na lama
falavas daquele filme, de tantas premissas, de constelações vizinhas, de gimnospermas
uma nova mesma história outra vez
eu acompanhava, balançava a cabeça
e a gente ria muito daquilo
desconfio acho que ríamos mais do nosso engano
e do desespero compartilhado
ou do amor?

Olhar adiante
de cima para baixo, da direita pra esquerda
seguir o sentido pré-definido
meus olhos desaprenderam
o tempo todo perseguir as pistas
letras falsas
gestos cínicos
em telas e páginas que reluzem na podridão
custa muito acumular as pedras para contenção
e na verdade não se entregar
por inteiro
a sombra cresce sorrateira no silêncio
há algo que se possa desfazer?

Novo lance, de outro ângulo eu vejo
nada nada nada que seja capaz de descrever
mas contamos mil e uma noites
em paisagens estranhas
com uma caneta eu tentei unir os sinais no teu corpo
ligar os pontos
descobrir no desenho que formaria
teu destino
nada nada nada a desvelar aqui ou além
só esse presente agora passa

rua

um elogio
de que me recordo
foi o do professor C.,
ele disse que eu era
uma excelente contadora de histórias

outro
foi de F.,
que disse, certa tarde,
que eu estava parecendo
uma personagem de Fellini

Jano (de novo)
a Esfinge
a esquina

amuletos são jogados ao alto

não querer ser
prefiro não
a diferença

como outra língua

que se aprende
no corpo
sempre com esse cabelo desarrumado

e hoje especialmente
me sinto
Edward Mãos de Tesoura.

quem está ouvindo?

sabe ‘aquele poema’, Elisa?
hoje achei que ele é
sempre o poema de hoje