Os Querubins vestidos de uniformes
Presos as margens violentas do rio
São pajens de Lúcifer
Que já foi luz, mas caiu
Porque todos, todos caem
Dante viu Malafaia no quarto círculo do inferno
Em eterna danação
Cuspindo e engolindo insultos
De grão em grão
Dante viu Messias no quinto círculo plúmbeo
Afogando-se na bolha de petróleo
Vociferando o ódio rúbeo
Porque todos, todos caem
O barqueiro de Hades
Que as almas perdidas recolhe
Leva Orfeu ao encontro de Eurídice
“Para onde levais a gente?
Para aquele fogo ardente” – responde Ele
Porque todos, todos caem
Um Sátiro alongando o instante
Seduz as Ninfas alucinadas
E os Querubins de uniforme
Antes mesmo que possam dizer não
Porque todos, todos caem
Eis que numa revoada de
Nuvens mordidas aparece
Penélope a esposa fidelíssima
(Pronta para seu fim celeste)
Mas Belzebu
Como um deux ex machina
A confunde com
Medeia a mãe assassina
E a leva para as profundezas
Porque todos, todos caem
O riso enlouquecido do palhaço
Inunda a sala escura
Para o espanto dos Querubins uniformizados
Para o entorpecimento completo dos Serafins
Enquanto os Arcanjos suam dentro de suas
Armaduras
O palhaço canta com Baudelaire
“Tem piedade, ó Satã, de minha atroz miséria”
E então
“Beatriz inteira se volveu
Ela estava tão forte a brilhar
Que de início a visão nos obscureceu
De centelhas de amor tão incendido
Os olhos abaixamos, quase perdidos”
De nada adianta pois
Morrer de beleza
Ou de verdade
Inevitavelmente
Teremos nossos nomes
Cobertos pelo musgo do tempo
Dante viu Malafaia no quarto círculo
Do inferno
Viu Messias no quinto círculo
Porque todos, todos caem