Percussivo

enigma                           

Joaquín Correa – Por que não podemos nos acostumar

a morar na catástrofe da perda? 

Elisa Tonon– Arrisco

trans

for

mar.

 

anos atrás

alguém

que não

eu

des

portava

n

est

a i

l

ha.

os olhos

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vés

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p

i.

Depois de intenso esforço cardíaco, a pulsação

Ou será uma brisa seca?

(Juliana Ben)

 

Semana

passada

afoguei-me na resposta

sem fundo

de que

flutuar

sobre

a terra natal

e nela

naufragar

são consequências do mesmo gesto:

 

remar

à exaustão

na lagoa seca

por temor

de seu sumidouro

que

ainda

a

trai.

 

Ana Araújo

a mulher do natureba da pequeno príncipe

a mulher do natureba da pequeno príncipe dizia, outro dia, sábado, cada vez que passava um produto, um chá, umas ervas, uma farinha de arroz, “isso é relaxante”, “isso traz a calma”, “isso vai fazer você, moça, dormir melhor”. por que, eu me perguntava, por que esse afã pela vida sedada. todas essas pessoas, ou quase todas, ou todas essas pessoas, enfim, sem exceção que são militantes do orgânico mais puro orgânico tem uma coisa errada, penso, não pode ser, uma coisa errada, um morto no armário, um karma muito pesado para querer viver na absoluta paz, por que senão tentar e tentar se apagar o tempo todo. a única coisa que acontece o tempo todo é a perda, são as despedidas. por que não podemos nos acostumar a morar na catástrofe da perda? e o estranho, por que preferir a calma ao estranho nosso de cada dia? “pero ¿hacia dónde van si no a nuevas heridas? una pasión es un trauma. una visión, una punzada”, marco no texto que estou lendo e faço cruzes do lado. nada tão distante como o olhar das pessoas que estão no nosso lado. por que preferir a calma as incertezas desse olhar? quanto chá de camomila, senhora, é preciso pra diminuir a potência desse afeto?

 

Joaquín Correa

sublimação

muitos dizem que é preciso se resguardar e
cultivar a certeza que protege do deslize
foi segunda ou terça ou quarta
esqueço rotineiramente
e também não é impossível
ver com outros olhos
por exemplo
a tua mirada de
canto
como quem
para acertar o alvo
incisivamente
desvia
e finge que desiste
psiu
ainda estou na tua frente
foi rápido
instauramos a bagunça excepcional
resta
a partir da fissura
nadar
andar
até
o porto
a praia
a rua
inteira
adiar não adianta
nada mesmo
o oceano imenso ali
alhures
essa página
areia
fina
em que traço tanto
o maior desejo
fagulha
arrisco
trans
for
mar

Como olhar de perto

Olha só, eu tô aqui nessa porta, noutra, olhando com os olhos de quem não vê. Eu tô olhando, tentando olhar, na verdade, aquela janela aberta que ofusca uma chama presa. Ou será uma brisa seca? Eu olho, oro e conto cartas-totem. Sabe cartas-totem? Dessas que a gente não escolhe porque quer, mas porque queima. Eu sei que tu sabe. Aí eu juro, mas preciso de mais de um pra jurar, então jura pra mim que vai passar? Jura, vai, jura no juramento mais falso possível, naquele do antigo self, que adorava ilusões, então jura, só mais um pouquinho. E também junta, junta os cacos, por favor, só dessa vez, vai. A gente jurava que juntava junto, mas no final só Juju juntava e era muito triste, então, só dessa vez, junta pra nós. Julga vai, pode julgar, é bom julgar, julga direto na jugular. Só que dessa vez não vai sangrar. Dessa vez não vai pisar, mas também não vai sarar. Só dessa vez, vai profundizar. A permanência é a bola da vez.