Vi-a de longe.
Passo lento como de quem sofre
olhos cravados no chão
atravessam as lentes escuras
escondidas no peito, de quem sofre.
Decido não me anunciar.
Escolho abafar minha presença
daquele olhar que olha o nada
no andar que anda para o não
de quem sofre.
Ela sabe, eu sei.
Ela espera, mas sigo
na sombra daqueles passos
que sabem só
o caminho de sempre, de quem sofre.
Espera uma surpresa, eu sei.
Espera branca uma visita
um pálido sorriso de quem sofre
um olhar anoitecido, de quem dói
naquela vida incolor, uma parca vida.
Confesso
(e toda confissão está
embebida de vergonha).
Digo assim, com
tremor nos lápis que fugi.
De seu reconhecimento
branco, fugi
de seu abraço e
da saudade, fugi
de sua vida pouca
acorrentada, mas não fugi
de mim.