Torrencial

Foto: Elisa Tonon

Um ventre é um
ventre é um ventre
é um vem

Ana Amália Alves

o coração cima da cabeça
fico me perguntando
como latir alto e sem pressa?
o peso da pele
da alma
do sangue
renascer
em labirintos assustadores
as palavras constelando
a cultura o destino
pensar menos
menos
menos
menos
a pele velha
troca?
foca?
meu desejo é torrencial
crepitando potências
pulsando provocações
pele expande
– tambor –
ressoa
comunhão
possível
em vídeo
a direção
vem
entre

terra quando água

no começo da pele
inicia a vida
meu arco corpo inclina-se
sobre a superfície
orifício do papel

pele celulose
parda como eu
sensual e lenta lesma
sempre arrastando-se
sobre a derme do papel

escavando palavras
com analfabetas flechas
atiro
direto no alvo
via crucis do sangue

decidi então
escavar cadernos
emprestar meus olhos
para que a toupeira encontre estrelas
em trilhas subterrâneas
vias escritas

trovadoras surgem
quando pouso
o ouvido na terra
montadas em éguas
com cabeças nuas
por fendas saem
gritando nomes perguntas nas ruas
pernas abertas no lugar de colunas verticais
muralhas movediças nos ventres
saias negras no verão

colho as pétalas com os ouvidos
aparo os poemas dispersos
minha cabeça
versa
sucumbe
pesa no corpo

pânicos colorem as mesas dos bares
e seguro as saias em roda
quase me machuco
quando a queda é inevitável
na dança

acorda amor
diz do meio do escuro
do fundo de  águas
em camas suspensa
em plenilúnios onde éguas bebem
com ancas balouçantes bocas abertas

não saia do foco, lunática!
volta! nas ruas estavas
nas águas eróticas

inventa
versátil
veredas vias
revoltas vivas
a via crucis do corpo

o melhor que pude
no poemar revoluto
foi expor o tonto vazio
o luto a gagueira
de uma vaca lasciva fragmentada
pavoa cobra melíflua reunicórnia

corno sem glamour
fábula falida
escondida na manada
partilho em doses/dores fêmeas
o leite bom do amor

terra, amiga?
a minha é aquela nas unhas da criança velha