Encontrei a perplexidade numa
maçã.
Vontade de escrever com letras
à lápis – MAÇÃ
Quando a escolhi dentre tantas
na banca do mercado
sua complexidade estava
no preço do quilo
não que valesse muito
nem que valesse tão pouco
mas era junto daquele monte de
frutas, tão todas e tão elas
como se fossem nada
– o trivial é invisível, mas o essencial também –
era lá que estava o sentido da vida.
Para quê a massa da maçã?
Se o impulso maior da semente é
germinar para eclodir
crescer para reproduzir
e revolucionar em seus ciclos
inquietos?
Ela sabe.
Molhava meus lábios com seu
corpo doce sumarento, mas suave
estalava entre meus dentes, mas macia
saciava a fome, a sede, a imaginação.
Este ano elas estão especialmente
atraentes e deliciosas,
venenosas talvez – o que é invisível,
não o veneno, mas sua trivialidade –
mas disso ela não sabe.
Ela foi se acabando aos poucos
em cada mordida buscava a
palavra específica, especial,
que pudesse dizer da minha
perplexidade ao gozar de algo tão
grandioso como o morder
barulhento de uma maçã.
Pensei na maçã do amor, pensei
em Adão e Eva e na Serpente,
não nego,
na Branca de Neve, mas pensei
também num desenho que vi
outro dia, cruel como a fome.
Maçã Mulher Mãe
Estou saciada, e perplexa.