me segura q’eu vou dar um troço

proteus

.

.

.

Proteu.

E já não mais.

Outro, já.

.

.

.

.

.

Me seguuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura!

q’

eu vou dar

um troço

“Início da viagem, Ulisses dentro do barco (tapando os ouvidos contra as sereias): – meu barco vai partir num mar sem cicatrizes.

SAIL

       OR

MOON” (The beauty and the beast,  Waly Salomão)

Convido os demais marinheiros, nautas, navegantes, marujos, embarcados, a que me acompanhem e interfiram e acrescentem e transformem esta delirante leitura do sóbrio Me Segura.

Q’eu vou dar um troço.

Primeiro Comentário: 

1972

Segundo Comentário: 

É-se o Brasil. O Brasil é uma forma de nomear a própria percepção da história no Agora, e são muitos diferentes Agoras entre 72 e 2004.

 

Terceiro Comentário:

“Proteu – Deus marinho. […] Possuía o dom da profecia. Entretanto, para obter suas predições, era necessário acorrentá-lo enquanto dormia. Nessa ocasião, Proteu metamorfoseava-se em animais, vegetais, água e fogo.” (Dicionário de Mitologia Greco-Romana Abril Cultural, 1973)

 

Quarto Comentário:

Mal Secreto – Letra de Waly Salomão, música de Jards Macalé, na voz de Gal no disco Fa Tal Gal , do show igualmente Fa Tal Gal, 1971, produzido pelo Waly Salomão.

Quinto Comentário:

Sexto Comentário:

Sétimo Comentário:

a alegria de ler waly

wal_gasol

       De início, as dúvidas (duvidar). Porque lemos um livro de poemas? E, ainda mais, porque ler o conjunto da obra? A “Poesia total” de Waly Salomão (Cia. das Letras, 2014)?

       Arrisco: um acúmulo de perdas, somadas constituem uma excrescência, um excesso vibrante (terremoto–maremoto?). Escrever é se vingar da perda. /Embora o material tenha se derretido todo, /igual queijo fundido.

       A diferença de ler o Waly, com relação a experiências anteriores de leitura de poesia que fiz, é o sentido marcante de estar convivendo com a materialidade de um corpo, com sua respiração, com seus gestos de mãos, seus ruídos, um timbre e um volume de voz muito próprios (plurais) que me chegavam ao longo das leituras… E esse corpo se metamorfoseava a cada livro, crescia, ampliando contornos e exibindo novos golpes a me interpelar sem, em nenhum momento, me conceder possibilidade da indiferença. O intrigante é que o convívio, ao se prolongar, despertava em mim a sensação do desconhecido, do estranhamento, de um encantamento assombrado: ele (eu) sempre outro – indefinível, instável, pulsante, escorregadio, provocador, desmedida.

       Waly não permite imunidade, assepsia, esterilização – é puro conta(to)gio, abundância, profusão, disseminação, polinização… por isso, percebo agora, não é assim tão surpreendente que sua leitura (co)mova encontros, ative o impulso de compartilhar e, mais, de celebrar, (con)fabular, como temos praticado (sonhado) nessa barca… e foi mais ou menos isso que ele tem me impulsionado desde o início: o passo em direção à festa-conversa. Um passo a mais, a cada poema (pedra) de toque: (ler e) cruzar a fronteira da (casa) cidade; lançar-me na viagem em direção à perda que alcanço a cada página virada. A temperatura sobe (desce) e a água (onda) evapora (quebra) – vapor barato pelo ar. Marinheiro da lua de lábios de sol, levou-me até o ponto preciso, no meio do mar, na fissura da barca: DESACEITAR O NAUFRÁGIO: (ainda) tenho (muita) fome de me tornar em tudo que não sou.

DEVENIR, DEVIR

Término de leitura

de um livro de poemas

não pode ser o PONTO FINAL.

Também não pode ser

a pacatez burguesa do

PONTO SEGUIMENTO.

Meta desejável:

alcançar o

PONTO DE EBULIÇÃO

Morro e transformo-me.

Leitor, eu te reproponho

a legenda de Goethe:

MORRE E DEVÉM.

MORRE E TRANSFORMA-TE.

Waly Salomão, Tarifa de embarque (2000)

polinizAção O U lançabrasas

Os nomes e as coisas anunciam uma manifestação acefalofágica. No torvelinho de acontecimentos, promovemos o acontecimento com muitos, nomes em profusão proferidos pelos tripulantes de uma nau desgovernada, la femme sans tête.
Antes que se percam os nomes,
TurbAtivaNau
as coisas surtem
polinizações cruzadas
mar de sargaços
desaceitar o naufrágio
stultifera naviss

Na esfera da produção de NÓS mesmos, singramos ilhas de grandes vazios, mas vazios grávidos como Iemanjá de muitos peixes e alguns orixás, de ideias do além mar, americancorados em nuvens de nina simone e saudades de neguinhos e abraçaços.

Em noites de navegação da stultifera naviss, da ilha ou do barco bêbado, navegantes misturaram muitos ouros e demais alquimias na leitura de Waly Salomão. Os tripulantes ainda misturam, apesar do fígado já deBILItado, leminski, piva, ana c., joyce, hilda hilst, pessoa, szymborska, nos, waly sailormoon, nos, waly sailormoon, nos, waly sailormoon, nos, waly sailormoon, porque tudo afinal se passa no plano da linguagem. tudo afinal se passa no plano da linguagem. metamorfose.

Abaixo, bem abaixo da linha do equador, subscrevo-me ladra confessa dos versos versáteis deste outro ladrão deLírios e deLiras, waly, o sailormoon.

E direto do
TEATRO DE TESE NO MORRO DO Ó LIMPO
conclamo a todos tripulantes

“Transbordar, pintar e bordar, romper as amarras,
soltar-se das margens, desbordar, ultrapassar as
bordas, transmudar-se, não restar sendo si mesmo,
virar ou-tros seres. Móbil.
OBRAS DA INCOMPLETUDE.
De qualquer modo intento deixar algumas
BROCAS no mundo: esta é uma
arquetípica ficção-consolo dum intempestivo.
OU
Pois que ou-tra alternativa há senão convocar as
tropas do exército de virtualidades do duo vocálico
O U?”
Passo o leme…

Ó!

O assombro de olhar pras profundezas de dentro.

Ó!

O assombro de olhar pra vastidão de fora!

Ó limpo, Ó sujo, Ó sem hygiene alguma, Ó de misturas fecundas, esterco para que cresça verdejante vermelhante vicejante viciante Nau!

Ó!

Assombro de olhar a multidão de seres aquáticos lunáticos monstros marinhos que, reunidos, somos mar, somos mais.

Ó!

Assombro de olhar as letras:

O

U

A

U

N

A

U