Nesse 01 de abril a língua do irmão chicoteia minha pele
Devo calar sempre onde quer que seja, agora
não há mais lugar seguro
não tem graça.
O amor se transforma em fel
e borbulha de sapos que tenho de engolir
em mordaça que tenho que vestir.
Amor? Não há mais.
O outro, meu antagonista.
Afasta, por favor, afasta de mim
este cale-se
Ele, de tudo sabe
do que foi, do que é, até mesmo do futuro
que não há
não é machismo, nem ameaça
é conselho.
Cospe medo reproduzido
fala reproduzida
vivemos na era da reprodutibilidade técnica
sem aura
sem alma.
Afasta, eu peço, afasta de mim
este cale-se, irmã.
Estampidos de ódio estouram meus ouvidos
a força prende minhas mãos
gritos oficiais amarram meu corpo
o pelotão venda meus olhos
porretes em massa estupram meus orifícios,
arrancam minhas unhas
quebram meus ossos, um a um
mas não me matam.
Não, porque é crime e paradoxal
é impune, é libertadora a morte.
Afasta, eu suplico, afasta de mim
este cale-se, amigo.