a mulher do natureba da pequeno príncipe dizia, outro dia, sábado, cada vez que passava um produto, um chá, umas ervas, uma farinha de arroz, “isso é relaxante”, “isso traz a calma”, “isso vai fazer você, moça, dormir melhor”. por que, eu me perguntava, por que esse afã pela vida sedada. todas essas pessoas, ou quase todas, ou todas essas pessoas, enfim, sem exceção que são militantes do orgânico mais puro orgânico tem uma coisa errada, penso, não pode ser, uma coisa errada, um morto no armário, um karma muito pesado para querer viver na absoluta paz, por que senão tentar e tentar se apagar o tempo todo. a única coisa que acontece o tempo todo é a perda, são as despedidas. por que não podemos nos acostumar a morar na catástrofe da perda? e o estranho, por que preferir a calma ao estranho nosso de cada dia? “pero ¿hacia dónde van si no a nuevas heridas? una pasión es un trauma. una visión, una punzada”, marco no texto que estou lendo e faço cruzes do lado. nada tão distante como o olhar das pessoas que estão no nosso lado. por que preferir a calma as incertezas desse olhar? quanto chá de camomila, senhora, é preciso pra diminuir a potência desse afeto?
Joaquín Correa