o vírus

Virus

Virus, 3D render

O vírus comeu as sombras na
calçada, um a um dos carros que
passavam;

o vírus comeu a sujeira dos canais
de Veneza, do céu de Hong Kong,
dos pulmões de São Paulo.

O vírus veio e comeu a bolsa de
valores, violentou o dólar, maculou
o mercado financeiro;

o vírus devorou os messias, os
bispos, as crenças e os
terraplanistas.

O vírus implacável, comeu milhares
de viajantes, aviões, aeroportos,
centros de compras;

o vírus comeu voraz aqueles que já
viram muito da crueldade dos
homens.

O vírus comeu a cegueira daqueles
que não queria ver, a mudez de
quem já não falava, o vírus comeu a
falta de tempo;

o vírus comeu as falsidades e as
prepotências;
o vírus comeu as presenças, as
permanências, os encontros.

Então Joaquim, que já não tinha
mais medo da morte, saiu para
caminhar na cidade desolada.

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